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Resenha - Confesso: A autobiografia de Rob Halford

Atualizado: 9 de abr. de 2023




Não há título melhor para definir essa biografia de Rob Halford, o icônico vocalista do Judas Priest. Geralmente quando falamos em autobiografias, já temos de antemão a ideia de um texto de autoadmiração ou de exploração mercadológica de fatos polêmicos do biografado. E esse livro obviamente contém um pouco dos dois, afinal toda autobiografia é carregada de um teor de narcisismo. No entanto, não podemos culpar o velho Halford de esconder o jogo. Ele conta tudo que o fã queria saber. Sim muito do que ele diz no livro são explicações detalhadas da sua vida íntima, e não podemos negar que Rob Halford é uma das figuras mais exóticas do showbusiness e muitas especulações foram feitas a seu respeito mesmo antes de sair do armário.

Imagem: André Stanley fotografias

Halford conta em detalhes sobre seus relacionamentos e sua angústia por ter que esconder sua sexualidade do público, e nãos se enganem, há uma boa dose de humor na narrativa do “Deus do Metal” – aliás não raramente ele se refere a si próprio pelo apelido que ganhou inspirado na icônica canção “Metal Gods”. Um dos pontos altos do livro é justamente a fluidez da linguagem e o bom e velho humor inglês, que torna a leitura fácil e agradável.


Não posso deixar de acrescentar que para os leitores mais conservadores – e dentro da cena atual do Metal ainda há uma boa massa de retardados bitolados – esse livro vai ser indigerível devido à alta quantidade de relatos insólitos de cunho sexual. Um bom exemplo disso é quando ele relata que a inspiração para “Jawbreaker”, clássica música do álbum DEFENDERS OF THE FAITH de1984, veio de uma prática homossexual grotesca imaginada por Halford. Imagine o que ele tinha em mente ao fazer uma música chamada “Quebra-queixo”.


A versão em português da editora Belas Letras é muito bem-feita e apesar de eu ter encontrado um errinho de tradução aqui e ali, isso não prejudica a mensagem do livro. A edição traz fotos muito interessantes de todas as fases de Rob Halford, desde criança passando pela adolescência até o estrelato ao lado de figuras renomadas da música pop como Lady Gaga. O livro traz 21 capítulos estabelecendo como linha do tempo as gravações de cada álbum do Judas assim como os dois álbuns do Fight e os 3 da carreira solo e até mesmo aquele álbum diferentão que ele chamou de “Voyeurs” naquele projeto experimental de Metal industrial nomeado de “TWO”.


Foi justamente nesta época que ele assume a homossexualidade e causa certo furor, apesar de muitos já saberem ou ao menos desconfiarem disso. Não posso deixar de lembrar daquela vez que Halford veio tocar no Rock in Rio em 2001 com seu projeto solo e o apresentador da Globo Márcio Garcia que estava apresentando o festival para a TV, fez um mistério danado no intervalo dizendo que em seguida iria revelar algo inédito que iria deixar os fãs do Halford sem chão. Imaginem vocês que foi preciso que o Supla, que era o convidado daquela pauta, acabasse com a alegria do apresentador ao dizer que essa revelação já havia sido feita três anos antes em um programa da MTV. Nunca esqueço desse momento, rio até hoje.


Halford conta sua versão de quando saiu do Judas e relatou que jamais ouviu os dois álbuns lançados sem ele nos vocais. O relato de Halford parece convincente. Ao apontar como uma das causas, as intrigas internas na banda – principalmente entre a dupla de guitarristas – Halford acaba expondo um lado do Priest que muitos não conheciam, talvez a dupla de guitarras mais efetiva e influente da história do Metal eram duas figuras que não raramente estavam em conflito.


Imagem: André Stanley fotografias

Isso talvez explicaria o porquê de o Judas não ter chamado K. K. Downing – que havia deixado o Judas Priest anos antes – para voltar à banda no lugar de Glen Tipton quando este foi diagnosticado com Parkinson em 2018. Halford relata de forma gentil as primeiras manifestações de que algo estava errado com o velho Glen e ele pôde fazer um paralelo com seu próprio pai que padecia da doença. Segundo Halford a decisão de ser substituído deveria vir do próprio Glen o que acabou acontecendo depois de uma conversa entre os dois. O produtor de Firepower, o guitarrista Andy Sneap – que nunca escondeu sua admiração pelo Judas – literalmente ganhou a vaga depois da decisão de Glen.


A narrativa se finda com os acontecimentos após a turnê do disco Firepower em 2019 e uma breve reflexão sobre a pandemia de COVID-19 que assolava o mundo.

Nesta obra Halford realmente confessa tudo. Tudo que sentia a respeito de sua incumbência de empunhar o estandarte de uma cena extremamente machista e homofóbica sendo ele homossexual, confessa tudo que escondeu de seu pai, tudo que sentia pela banda da qual foi o frontman por praticamente 50 anos e contando – ele entrou para o Priest em 1973. Ele confessou tudo sobre seus vícios e suas relações arriscadamente promíscuas em uma época que perdeu vários ídolos para a epidemia de AIDS. No final o que temos é um relato poderoso pessoal de alguém que ajudou a construir a história do Heavy Metal como conhecemos hoje.







Confesso: A autobiografia – Rob Halford

Tradução: Paulo Alves


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André Stanley é escritor e professor de História, inglês e espanhol. Também atua como designer gráfico e fotografo. É autor do livro "O Cadáver" e editor dos blogs: Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher. Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys.


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