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Os Assassinatos de West Memphis e a condenação de três Headbangers

Atualizado: 26 de mai. de 2023


Fonte: PD West Memphis

Há exatos 30 anos, um crime brutal revelava a face mais rude do conservadorismo religioso americano, devorando 18 anos de vida de três adolescentes headbangers de famílias pobres e ainda quase ceifou a vida de um deles com uma injeção letal. Apesar de terem se declarado culpados em um acordo frente a justiça, hoje os acusados alegam inocência.


Tudo começou com uma hedionda ocorrência que colocou a pacata cidade americana de West Memphis no mapa da criminalidade. Três crianças de 8 anos de idade foram assassinadas com requintes de crueldade quando foram andar de bicicleta perto de um pântano em sua vizinhança.




Os três meninos sumiram na tarde do dia 5 de maio de 1993. Vizinhos e familiares dos garotos conduziram uma busca pela região, mas não encontraram nada. Somente na manhã seguinte a polícia fez uma varredura mais detalhada do lugar chamado “Robin Hood Hills”, lá havia um córrego lamacento onde por volta da 13:45 o policial Steve Jones viu um sapato preto de criança no meio da lama, e uma busca posterior da área revelou os corpos dos três garotos.


Steve Edward Branch, Christopher Mark Byers e James Michael Moore foram encontrados submersos na água lamacenta, estavam todos nus e seus pés estavam amarrados a seus punhos pelos cadarços de seus respectivos sapatos. Essa característica ritualística, logo criou uma atmosfera que ligou os assassinatos com a prática de cultos satânicos que segundo os moradores ocorriam naquela região. A polícia imediatamente começou a interrogar possíveis suspeitos que tinham alguma ligação com a prática de cultos satânicos inspirados por bandas de Heavy Metal.



Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley Jr.

Jessie Misskelley Jr. de 17 anos, Jason Baldwin de 16 anos e Damien Echols de 18 anos eram garotos problema que viviam em uma vizinhança pobre de West Memphis e logo foram relacionados ao crime. Jason e Damien eram grandes amigos e andavam pelas ruas vestidos de preto com camisetas de bandas, como METALLICA e SLAYER e justamente por isso, sempre foram vistos com maus olhos pelos vizinhos e colegas de escola que os acusavam de bruxaria e satanismo. Jessie Misskelley foi submetido a um interrogatório que durou 12 horas quase ininterruptas sem a presença de um representante legal. Misskelley confessa ter estado com os outros dois acusados na cena do crime e ter presenciado Damien e Jason assassinarem aquelas crianças brutalmente e sem piedade.



Damien Nichols durante o julgamento que o condenou a morte

Com a confissão de Misskelley os três suspeitos foram a julgamento. Misskelley por se recusar a depor contra os outros dois, foi julgado separadamente, enquanto Jason e Damien foram julgados juntos. Depois de uma batalha judicial onde muitas falhas na investigação policial foram apontadas e onde nenhuma evidência foi encontrada para colocar qualquer um dos três adolescentes na cena do crime e mesmo com os três se declarando inocentes, pois Misskelley voltou atrás e disse que foi persuadido pelos policiais e que sua confissão foi forçada, os três foram condenados pelo crime de assassinato, sendo que Damien recebera a sentença de morte ainda vigente no estado do Arkansas por ter sido considerado o idealizador do massacre satânico.


Com o passar dos anos os advogados dos três condenados, que agora eram chamados pela imprensa de “West Memphis Three” – O trio de West Memphis – fizeram vários apelos a justiça pedindo novo julgamento, devido a várias evidências encontradas por investigadores particulares, como o teste de DNA feito no cadarço que amarrava uma das vítimas, onde não foi encontrado o DNA de nenhum dos acusados. O DNA encontrado, no entanto, era o de Terry Hobbs o padrasto de Steve Edward Branch uma das vítimas. O evento ganhou notoriedade nacional e logo internacional quando grupos de apoio aos condenados começaram a pedir que um novo julgamento fosse aberto para que essas novas evidências pudessem comprovar a inocência dos acusados.


Várias celebridades entraram na onda e conseguiram chamar a atenção para o caso, dentre eles Eddie Vedder (PEARL JAM), Flea (RED HOT CHILI PEPPERS) Johnny Depp, HENRY ROLLINS – que encabeçou um projeto musical que contava com LEMMY KILMISTER, TOM ARAYA, IGGY POP, dentre outros, para arrecadar dinheiro para ajudar nas investigações. Tamanha comoção fez com que o caso fosse levado à suprema corte do estado do Arkansas em 2011 – 18 anos depois de estarem atrás das grades - onde os acusados receberam a oportunidade de saírem da prisão, contanto que se declarassem culpados do crime.



Capas dos documentários produzidos pela HBO - Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills, Paradise Lost: Revelations e Paradise Lost: Purgatory


A história desse crime brutal e da condenação imprecisa dos acusados foi largamente difundida pela imprensa americana, livros foram lançados, como "Devil's Knot"(O nó do diabo) da jornalista investigativa Mara Leveritt. Uma série de três documentários produzidos pelo canal HBO batizada de "Paradise Lost" (Paraíso perdido) conta toda essa jornada cheia de reviravoltas, má conduta policial, má vontade do juiz local e mobilização nacional em prol de três condenados, incluindo um deles condenado à morte por injeção letal. O METALLICA liberou os direitos autorais de uma de suas músicas para ser a trilha sonora destes documentários, em solidariedade aos acusados


Em 2012 um outro documentário chamado "West of Memphis" dirigido por Amy J. Berg e com a produção de Peter Jackson (Senhor dos Anéis) foi lançado abrangendo todo o caso e ainda toda a repercussão da libertação dos suspeitos depois de se declararem culpados.


Em 2013 o filme "Devil's knot" (no Brasil - Sem Evidências) do diretor Atom Egoyan com Colin Firth, Reese Witherspoon foi lançado tendo como base o livro de mesmo nome de Laveritt.




Há muitas evidências de que esse caso é uma verdadeira caça às bruxas



Os acusados ainda lutam até hoje para limpar seus nomes da acusação de assassinato e paralelamente descobrir quem é o verdadeiro responsável pelo brutal assassinado dos garotos, a maioria dos pais das vítimas já declararam que não acreditam mais que Jason, Jessie e Damien sejam culpados do crime que ceifou a vida de seus filhos e que as novas evidências deveriam ser avaliadas.

Ano passado (2022) os advogados de Damien Nichols fizeram uma nova petição para que o estado permitisse que um novo exame de DNA seja feito e mais uma vez foi negado pela justiça.



Damien Echols em 1999, enquanto aguardava no corredor da morte.

Aqueles que acreditam na inocência dos headbangers, apontam algumas considerações sobre o caso, que fortalecem a tese de que tudo foi uma verdadeira “caça às bruxas.” West Memphis está localizada em Arkansas, estado que fica no coração do que se convencionou chamar de "Bible Belt" - cinturão bíblico, devido à grande concentração de fundamentalistas religiosos cristãos nessa região.



No início da década de 1990 havia resquícios de um fenômeno que prevaleceu por toda década de 80. O Pânico satânico, onde um tipo de histeria coletiva fazia as pessoas acreditar que estavam sendo vítimas de organizações satânicas.


Ou seja, pessoas que costumam enxergar tudo ao seu redor como uma luta entre o divino, e as forças do mal. Onde um garoto com uma camisa de Heavy Metal representa uma ameaça aos bons costumes e se um crime dessas proporções ocorre, certamente não será obra de um devoto temente a Deus, mas obviamente de um delinquente que se veste de preto e adora músicas “do diabo.” Esse caso seria um clássico exemplo de como mentes conservadoras e religiosas tendem a julgar tudo dentro dos limites estreitos de suas crenças e mesmo com todas as evidências físicas, permanecem negando a inocência dos condenados. Baldwing declarou em uma entrevista à revista Rolling Stone que


“o estado usou nosso gosto musical para nos destruir... e no fim muitos desses mesmíssimos artistas nos ajudaram a ganhar a liberdade.”

Ainda há muito mistério envolvendo esse caso, muitas perguntas sem respostas, provas negligenciadas e confissões plantadas. Os três suspeitos ainda são considerados culpados pelo estado e o caso permanece encerrado. Há muita controversa e um emaranhado de opiniões divergentes a serem pesadas. Ainda há muitos que acreditam na culpa dos três. O grande problema é que lançam evidências muitas vezes embasadas em pesquisadores, no mínimo, levianos como o escritor William Ramsey que escreveu um livro descrevendo que os três acusados assassinaram as três crianças como parte de um ritual satânico inspirado pelas bandas que ouviam.


Dale W. Griffis um autoproclamado especialista em mortes por ritual satânico foi usado como testemunha de acusação. Ou seja, se ainda almejam alguma esperança de colocar Jason, Jessie e Damien de volta atrás das grades, acho que deveriam primeiro encontrar evidências físicas dentro do mundo real. Como aliás foram encontradas na cena do crime e apontavam para a presença do padrasto de um dos meninos, mas nunca foram consideradas ou avaliadas.


Fontes:

· Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/West_Memphis_Three#The_crime . Acesso em 18 de maio de 2018.

· Paradise Lost 1,2 e 3- documentários de Joe Berlinger and Bruce Sinofsky, produzidos pela HBO.

· West of Memphis - documentário dirigido por Amy J. Berg e com a produção de Peter Jackson.

· Vida após a morte – livro de Damien Echols sobre seus anos de corredor da morte.

· Bizarrepedia - https://www.bizarrepedia.com/west-memphis-three/ . 17 de maio de 2018.

· Jiveppupi- https://www.jivepuppi.com/dale_griffis.html . Acesso em: 18 de maio de 2018.

· Whiplash: https://whiplash.net/materias/curiosidades/192143-slayer.html Acesso em: 18 de maio de 2018.


André Stanley é historiador, professor de Inglês, espanhol e português para estrangeiros. Autor do livro "O Cadáver", editor do Blog do André Stanley. Possui um canal no Youtube onde fala de literatura, design e outros temas. Colaborador do site Whiplash, especializado em Heavy Metal. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.

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