Semelhanças com outro caso famoso.
A história envolvendo estas duas jovens mulheres holandesas que desapareceram em uma floresta do Panamá já foi largamente comentada e remoída na internet e minha intenção é somente analisar o que já foi escrito a respeito e eventualmente dar minha opinião sobre as perguntas ainda não elucidadas neste caso.
Em termos de comoção nas redes, eu colocaria esse evento no mesmo patamar que o caso, já discutido nesse blog, da morte de Elisa Lam que em 2013 foi encontrada morta dentro da caixa d’água de um hotel em Los Angeles. Em ambos os casos houve uma investigação policial, devido às peculiaridades e à falta de respostas que eles geraram. Em ambos os casos também houve um desfecho apresentado pelos investigadores que consta nos documentos oficiais. Em ambos os casos as mortes das envolvidas foram declaradas como acidentais. Em ambos os casos a declaração oficial não responde a maioria das perguntas levantadas pelos familiares das vítimas e causaram comoção mundial nas redes, criando uma verdadeira legião de pesquisadores amadores que compartilham suas teorias que vão desde analisar tecnicamente as fotos e filmagens que as vítimas deixaram antes de morrerem até a criação de teorias mirabolantes de ocorrências paranormais ou ufológicas.
Não vamos nos ater, obviamente, às teorias metafísicas envolvendo esse caso, mas nos basearemos estritamente nas análises mais sérias que foram feitas pela polícia e por investigadores individuais que trabalham com a análise dos fatos embasados pela ciência.
Kris Kremers e Lisanne Fronn - Duas holandesas no Panamá
As estudantes holandesas Kris Kremers e Lisanne Froon – 21 e 22 anos respectivamente – vinham economizando dinheiro por cerca de seis meses para fazer uma viagem internacional. Como eram jovens com espírito aventureiro escolheram um pacote de viagem para a América Central onde iriam aprender espanhol e ensinar inglês para crianças em uma escola do Panamá. Depois de passarem pela Costa Rica as duas jovens ficaram algumas semanas na província de Bocas del Toro, já no Panamá. No dia 29 de março de 2014 elas se estabelecem em uma casa de família que recebia turistas na cidade de Boquete – sim, esse é o nome da cidade – que fica na província de Chiriqui. Ao se apresentarem na escola onde iriam fazer trabalhos voluntários, foram avisadas de que não teriam acomodações naquela semana e que elas deveriam começar na semana seguinte. É dito que as duas jovens ficaram muito decepcionadas com esse contratempo e voltaram para a casa de Miriam, onde estavam hospedadas.
Como agora tinham subitamente uma semana livre, decidiram procurar atividades para fazer pelos arredores da cidade. Pesquisaram as melhores trilhas para caminharem naquelas redondezas e ficaram sabendo de uma trilha chamada “El Pianista” que era muito praticada por turistas que visitavam aquele lugar.
A trilha El Pianista
Apesar de ser uma subida e de passar por terrenos enlameados, a trilha era considerada relativamente fácil, já que era margeada, em grande parte do caminho, por rochas que delimitavam o caminho, e com ajuda da sinalização, não permitia que os trilheiros se desviassem. Segundo consta, o caminho poderia ser feito em cerca de 4 horas contando ida e volta. Parecia perfeito para a duas. No dia 1 de abril de 2014 as duas jovens pegam um taxi para serem deixadas no inicio do caminho, o taxista era Leonardo Arturo González – é importante que você leitor fixe esses nomes na cabeça, pois como em um romance policial, e esse caso se assemelha a algo assim, todos aqueles que de alguma forma estiveram com a vítima são em algum momento considerados suspeitos, e não foi diferente com esse taxista.
A primeira incongruência no caso ocorre nesse momento em que as jovens foram deixadas na entrada da trilha, pois o taxista Leonardo Arturo alegou em depoimento que as deixou no local às 13:40h, mas depois foi constatado nos celulares das vítimas que elas já se encontravam no mesmo local as 11h. Essa incongruência não parece ter sido investigada pela polícia na época, e para piorar a situação Leonardo Arturo morreu no ano seguinte pouco antes das investigações terem sido finalizadas. Segundo consta ele morreu afogado em um rio próximo depois de ter sofrido um ataque cardíaco, mas como tudo nessa história parece ser inconclusivo, há outras teorias que envolvem a morte desse taxista, inclusive morte criminosa.
Voltando a trilha, pouco antes de começarem a caminhada tudo indica que as meninas estiveram em um restaurante e pizzaria que fica perto do início da trilha, Chamado "Il Pianista", nesse momento o dono do restaurante oferece às holandesas seu cachorro de nome “Azul” para que as guiasse durante a trilha, afinal aquele cachorro tinha o costume de seguir as pessoas que faziam aquele caminho.
Pizzaria Il Pianista e um guia chamado Azul.
No dia 1 de abril, as meninas acompanhadas de Azul, se embrenharam trilha acima. Há muitas inconsistências relativas a esse episódio. Giovanni, o dono do restaurante disse que as garotas passaram pelo restaurante às 15h, o que não bate com o horário registrado na câmera digital que elas levavam. Uma outra testemunha, dono de um comercio local, diz que viu duas jovens retornando de um outro caminho chamado "Piedra de Lino" e que pediram informações de como retornar a cidade. Isso seria um indício de que as meninas teriam subido ao mirador e retornado, no entanto, os muitos depoimentos desencontrados nos impossibilita de chegarmos a uma conclusão, mas obviamente que isso gera infinitas possibilidades de interpretação.
O primeiro acontecimento que podemos chamar de estranho nesta história foi quando, segundo Giovanni e sua esposa Doris dizem, Azul retornou ao restaurante cerca de uma hora depois, mas sem as meninas. Mas até aí nada de muito alarmante poderia ter acontecido, o cachorro poderia simplesmente ter se dispersado e voltado para casa por puro instinto. Mas o dono de Azul declarou posteriormente que o seu cachorro nunca retornaria para casa sem aqueles aos quais estivessem acompanhando. Isso nunca acontecera antes. Algumas especulações foram levantadas a respeito da participação de Giavanni e sua família no desaparecimento das holandesas. A polícia chegou a questionar um dos sete filhos de Giovanni que era conhecido por fazer parte de uma gangue local, e que a história contada por Giovanni sobre o cachorro foi inventada para criar um álibi para proteger seu filho, afinal em nenhuma foto tirada pelas meninas é possível ver traços de qualquer cachorro que seja. Mas essa teoria foi descartada por falta de prova, apesar de ainda causar intriga entre os pesquisadores da internet.
A questão é que as horas passaram, o dia virou noite e Miriam, a dona da casa onde as meninas estavam hospedadas, não as viu retornar para casa e segundo ela própria em depoimento, decidiu procurar pela vizinhança, afinal, os turistas costumavam se encontrar para se divertir pela cidade e elas poderiam estar em algum lugar se divertindo. Pensando assim, Mirian decidiu dar a elas o benefício da dúvida. No dia seguinte, notando que as duas ainda não haviam retornado, Mirian decide então relatar à polícia o desaparecimento das duas holandesas.
Oficialmente desaparecidas
No dia anterior as meninas haviam contratado um guia local para fazer uma trilha nos arredores e haviam marcado para o dia 2 de abril às 14h, mas não apareceram. Ou seja, tudo levava a crer que elas estavam realmente perdidas. No dia seguinte, 3 de abril, a polícia fez uma declaração pública de que haviam feito uma detalhada varredura aérea da região, também fizeram buscas com uma equipe em solo, mas nada foi encontrado que pudesse lavar ao paradeiro das duas holandesas.
A família de Kris e Lisanne não recebiam contato das duas desde o dia 1 de abril, e também ficaram preocupados, afinal eles conversavam diariamente até aquela data, ou por chamada convencional o pelo Whatsapp. Disseram que enviaram mensagens para elas no dia 2 de abril e elas não responderam.
As buscas continuavam e nada indicava onde as meninas poderiam estar. As famílias de Kris e Lisanne ofereceram uma recompensa de 30 mil dólares para quem desse alguma informação que levasse às suas filhas. Quando completou seis dias de desaparecimento, um dos pais fretou um avião na Holanda e chegou ao Panamá com um contingente de vários especialistas holandeses em desaparecimento, detetives particulares e cães farejadores para ajudar nas buscas. Mas nada foi encontrado.
Mochila com os celulares e a câmera das meninas é encontrada.
Dez semanas após o desaparecimento, a primeira pista relacionada às meninas, aparece. Uma mulher nativa que vive em um vilarejo próximo do Rio Culebra entrega a polícia uma mochila azul que continha dois soutiens, dois celulares – um Iphone e um Sumsung Galaxy – uma câmera digital Sony Powershot, um cartão de memória que pertencia a câmera, dois óculos escuros, uma garrafa de água vazia, um passaporte e 83 dólares (há divergências sobre essa quantia). Foi constatado que a mochila pertencia a Lisanne Froon e os pertences encontrados eram das garotas desaparecidas.
É aqui que começa a parte mais aterrorizante dessa história. A polícia enviou os celulares e a câmera digital para a perícia técnica que constatou que, os celulares das duas holandesas fizeram cerca de 70 tentativas de ligação para números de emergência tanto da Holanda quanto o número internacional de emergência 911. De todas essas chamadas apenas uma conseguiu ser completada, por 2 segundos apenas. Segundo a polícia, 34 diferentes impressões digitais foram encontradas nos objetos, 13 na mochila, 12 nos celulares e na câmera e 6 em um dos soutiens. Mas essas impressões nunca foram efetivamente investigadas, e aqui podemos notar certa negligência por parte da polícia, algo que foi apontado por alguns pesquisadores individuais e pelas famílias das vítimas. Alguns até cogitaram um claro esforço das autoridades panamenhas em tentar encobrir o caso.
A Câmera fotográfica
Outras evidências ainda mais sinistras foram encontradas no cartão de memória da câmera digital. Era possível ver 133 fotos no cartão que acabaram vazando e vindo a público. As primeiras fotos mostram as duas garotas felizes e sorridentes no início da trilha fazendo selfies e mostrando a beleza do local. Mais adiante elas se fotografaram no alto da serra que subiram, um lugar chamado “Mirador” de onde, segundo dizem, com o tempo bom é possível ver o oceano Pacífico e o Atlântico. As fotos começam a ter contornos misteriosos um pouco mais adiante, quando apenas Kris Kremers aparece nas fotos, e agora com um semblante diferente. Alguns analistas indicam que ela esteja preocupada com algo, outros dizem que está apenas cansada depois de uma longa caminhada em alta altitude. Uma destas fotos mostra Kris em um tipo de formação de floresta fechada em uma posição muito estranha, com as mãos para trás, o que levou muitos a acreditarem que ela estivesse com as mãos amarradas e neste momento já fossem cativas de alguém. Mas nas fotos seguintes Kris já aparece com suas mãos livres, atravessando algumas pedras em um riacho raso. Neste momento as fotos se sessam.
Fotos durante a noite.
A câmera só foi usada novamente no dia 8 de abril, ou seja, sete dias depois do início do caminho. Essas fotos chamadas de "fotos noturnas", contribuem ainda mais para o fator aterrorizante desta história. Foram tiradas durante a noite e parecem não ter um objeto a ser fotografado, alguma mostram rochas iluminadas pelo flash da câmera, outras mostram simplesmente a vegetação local, todas as fotos têm partículas brancas que alguns analistas declararam se tratar de gotas de água, afinal neste dia estava chovendo. Como a câmera não demonstrava nenhuma gota na lente alguns analistas acreditam que elas podiam estar dentro de algum tipo de gruta ou caverna.
Uma das fotos mostra um galho seco em cima de uma pedra com dois sacos plásticos pendurados nas pontas, alguns acreditam que é algum tipo de marcação ou tentativa de sinalização.
Quando as fotos foram vazadas na imprensa muito se especulou e diversas teorias conspiratórias foram criadas. As fotos foram tiradas em um período entre as 3 da manhã e 6 da manhã do dia 8 de abril. Dentro deste período 90 fotos foram tiradas. Muitos acham que quem estivesse usando essa câmera poderia estar tentando usar o flash para iluminar o caminho no meio da escuridão, ou mesmo tentando sinalizar para que a equipe de resgate pudesse visualizar onde estavam. Outros acreditam que estivessem tentando fotografar alguém que as perseguia. Ou seja, muitas possibilidades podem ser levantadas em relação a isso, mas talvez nunca saberemos o que realmente aconteceu.
Uma das fotos em especial causa estranheza. A parte de traz da cabeça de Kris Kremers aparece. Não há como saber se a foto foi tirada de uma pessoa viva ou de um cadáver. A foto é uma composição macro dos cabelos ruivos de Kris. Alguns analistas acreditavam que havia uma mancha de sangue na cabeça de Kris, o que não foi provado posteriormente, e olhando a foto friamente, não vemos nenhuma mancha que se destoe ou que possamos confundir com sangue.
Para ampliar o mistério das fotos, a perícia descobriu que uma das fotos foi deletada. As fotos tiradas no dia 1 de abril ainda durante o dia terminam com a numeração em 507, a próxima foto aparece com a numeração 509, segundo especialistas se alguém apaga uma foto na câmera, ainda é possível recuperá-la pois o aparelho não apaga todas as informações relativas ao arquivo, mas no caso não havia nem mesmo sinal dessa foto perdida, algo que seria possível somente se você retirar o cartão de memória da câmera e colocar em um computador e então apagar a foto. Algo que não era possível de ter sido feito pelas duas garotas que não tinham nenhum computador com elas. Neste ponto há algo muito significativo.
A câmera que elas usavam era uma Sony Powershot 270, e a numeração das fotos é feita de forma automática. Se você deleta uma foto, a foto seguinte terá a numeração sequencial a da ultima foto que ainda esteja na câmera, ou seja, a câmera jamais salta um número sem ação externa. E para aumentar a carga de mistério, a foto perdida – que poderia ser também um vídeo, nuca saberemos – é justamente um elo que ligaria as fotos tiradas durante o dia ainda em 1 de abril quando tudo parecia ainda tranquilo, com as fotos tiradas a noite no meio da floresta.
As chamadas de emergência
No dia 1 de abril, cerca de meia hora depois da última foto tirada durante o dia, exatamente às 16:39h, uma tentativa de chamada de emergência foi feita pelo iPhone de Kris Kremers. O número discado foi o 112, número de emergência da Holanda. Às 16:51h uma outra tentativa de chamada foi feita no Samsung de Lisanne Froon. Mas por conta da baixa conectividade naquela área, nenhuma das ligações foi completada. Depois disso os dois celulares foram desligados.
O interessante é que uma tentativa feita pelo Samsung de Lisanne na manhã de 2 de abril conseguiu estabelecer contato com o número 112, mas a ligação caiu em 2 segundos. Não há como saber se a chamada foi interrompida automaticamente ou foi encerrada por alguém, mas esse fato gerou teorias de que as duas estavam tentando fazer as ligações escondidas daqueles que as mantinham prisioneiras. Fato é que, novas tentativas foram feitas nos dias seguintes, e a frequência de tentativas foi diminuindo com o tempo, mas praticamente todos os 6 dias seguintes os telefones foram usados.
No quinto dia de desaparecimento a bateria do Sumsung de Lisanne acabou. Neste mesmo dia uma tentativa de ligação foi feita pelo iPhone de Kris Kremers, e mais a tarde o mesmo aparelho foi usado novamente, mas desta vez o PIN foi digitado incorretamente, como se alguém que não sabia o número correto do PIN estivesse tentando abrir a tela do celular. E assim várias outras vezes foi tentado destravar a tela do celular de Kris, sem sucesso.
Outras teorias cabem aqui. Alguns analistas dizem que Kris poderia estar gravemente ferida neste momento, provavelmente inconsciente, e sua amiga Lisanne tentava desesperadamente destravar seu celular para uma possível tentativa de contato. Outros acreditam que as meninas teriam sido assassinadas e seus algozes tentavam destravar o a tela do celular, o que não faz sentido, pois várias tentativas de ligação para o número de emergência 112 e 911 foram feitas mesmo com a tela travada, pois é possível ligar para esses números sem destravar o aparelho. Por que os supostos criminosos tentariam ligar para emergência? No entanto, a pergunta que mais me atiça desde a primeira vez que li sobre esse caso é a seguinte:
Por que nenhuma delas tentou ligar ou mesmo enviar uma mensagem para seu pais ou para a dona da pensão onde estavam hospedadas, ou até mesmo para a escola que iam trabalhar? Alguns dizem que isso não ocorreu porque elas estavam ingenuamente tentando resolver a situação elas mesmas, não queriam preocupar seus familiares. Creio que ainda não faz sentido, pois as duas garotas eram aficionadas por relatarem suas experiências e ambas mantinham seus diários e não creio que nunca houvesse passado pela cabeça delas registrar suas experiências para a posteridade.
Ossos encontrados
No dia 19 de junho foi encontrado uma bota e ainda dentro havia um pé humano em decomposição. Na mesma região essa mesma equipe encontrou outros ossos humanos e um short jeans flutuando na água do rio – outros dizem que estava dobrado encima de uma pedra. Foi comprovado através de DNA que os ossos do pé dentro da bota pertenciam a Lisanne Froon e um pedaço do osso pélvico de Kris Kremers também foi encontrado. O short jeans também foi identificado como o short que Kris usava no dia do desaparecimento. Os legistas que analisaram os dois pedaços de ossos de Kris Kremers declaram que não havia traços de mordidas ou ranhuras causadas por garras de animais selvagens, no entanto, havia traços de que os ossos tinham sido lavados ou branqueados artificialmente, enquanto os ossos de Lisanne ainda estavam em um estado de decomposição intermediário, com muita carne ainda presente entre os ossos e o restante de pele. Mais teorias surgiram depois que essas informações foram replicadas. Chegou-se a falar até mesmo em ação de tribos que praticaram canibalismo com os corpos das holandesas, o que jamais foi cogitado pelos investigadores, devido à grande improbabilidade de isso ocorrer. Mais ossos foram encontrados ao longo das margens do rio Culebra, ao todo 33 pedaços de ossos dentre os quais apenas 2 pedaços pertenciam a Kris Kremers os outros pedaços pertenciam a Lisanne Froon e a maioria era de seu pé. Em agosto um pedaço de pele foi encontrado no meio da floresta enrolada de forma esférica, o que causou certa estranheza aos cientistas que a analisaram.
A versão oficial
Depois que os ossos foram encontrados a polícia fechou o caso, descartando a possibilidade de ação criminosa. O relatório final diz que uma das meninas caiu de uma ponte de cabos ao tentar atravessar o rio Culebra, em uma parte bem longínqua da do início da trilha de El Pianista onde elas começaram sua caminhada. A outra, provavelmente Lisanne, na tentativa desesperada de ajudar a amiga também se acidentou e ambas morreram pela falta de socorro e sus corpos foram levados pelo rio, o que explicaria o fato de seus ossos estarem espalhados pelas margens do rio e a maioria dos corpos não terem sido encontrado. Também poderia ter sofrido a ação de animais selvagens que ocorrem naquela área. Sobre os itens encontrados, foi dito que a correnteza do rio os levou até onde foram encontrados.
Seria uma versão razoável, se não fosse tão negligente e simplistas e respondessem a pelo menos grande parte das questões que ainda permanecem sem respostas. Vamos a elas.
Algumas dúvidas que ainda precisam ser esclarecidas
A mochila de Lisanne Froon foi encontrada intacta e todos os itens estavam secos e cuidadosamente arrumados, apesar de a mochila ser feita de matéria simples e sem impermeabilidade. A mulher que a encontrou alegou que no dia anterior a mochila não estava naquele local em que foi encontrada, sugerindo que alguém a colocou lá. Quem a colocou lá?
O short de Kris Kremers foi, segundo a polícia, encontrado em uma pedra, enquanto aqueles que o encontraram alegam que na verdade estava flutuando nas águas do rio em perfeito estado, ainda com o zíper fechado. Como isso pode ser possível se o corpo já tinha sido totalmente decomposto como os ossos encontrados de Kris sugerem?
Os ossos de Kris Kremers pareciam ter sofrido algum tipo de limpeza artificial com uso de alvejantes químicos, enquanto os ossos de Lisanne estavam, em tese, em seu estado natural de decomposição. Elas provavelmente teriam morrido em dias diferentes o que explicaria a diferença do estado de decomposição. Mas como explicar a provável ação humana nos ossos de Kris?
Foi descoberto que os dois soutiens encontrados na mochila de Lisanne eram os mesmos que elas estavam usando no dia do desaparecimento. Por que motivo elas teriam tirado seus soutiens no meio da mata?
O que mostraria a foto 508, que foi deletada por alguém, segundo a perícia, alguém que teria usado um computador para apagar a foto, ou vídeo?
Eventos estranhos ocorridos com alguns personagens deste caso.
Esses são apenas alguns dos inúmeros questionamentos que esse caso levanta. Mas há outros episódios posteriores que são sempre tratados pela polícia como eventos sem ligação com o caso, que, no entanto, geram especulações devido à participação dos personagens no caso das holandesas mortas.
Como dito antes, Leonardo Arturo, o taxista que levou as meninas ao início do caminho, morreu de forma repentina em 2015, alguns dias antes do caso ser oficialmente finalizado. Ele foi encontrado boiando em um rio da região, enquanto esperava por dois clientes que o havia requisitado. Segundo a imprensa é provável que ele tenha sofrido um infarto e caiu no rio, mas César Castillo, um instrutor de escalagem da região e que foi o primeiro a ver o corpo de Leonardo flutuando na água, disse que não havia nenhum trauma ou algo que indicasse que ele havia se afogado, por isso ele achava que Leonardo havia sido assassinado. Segundo o site Imperfect Plan um César Castillo foi encontrado morto em abril de 2018 e pode ser o mesmo que falamos acima (o autor do site não pôde averiguar essa informação).
Eileen Witek era uma mulher alemã que morava em Boquete na ocasião e trabalhava eventualmente para o guia local Feliciano Gonzales. Logo após o desaparecimento das holandesas ela deixou Boquete. Pelo que tudo indica, ela retornou para a Alemanha, e sua partida repentina obviamente levantou suspeitas, que nunca foram averiguadas pelos investigadores.
Osman Valenzuela era um jovem local que segundo dizem, pertencia a uma gangue. Ele desapareceu 3 dias após o desaparecimento de Kris e Lisanne. Seu corpo foi encontrado alguns dias depois. Testemunhas disseram que ele teria se encontrado com Kris e Lisanne dias antes e uma foto encontrada no seu celular levantou suspeita. Nesta foto aparece dois jovens e duas garotas nadando em um rio local, cuja data revela que foi tirada no mesmo dia do desaparecimento das holandesas. Muitos alegam que as garotas que aparecem na foto com os rapazes eram Kris Kremers e Lisanne Froon, mas a polícia disse que são outras garotas locais, e realmente não há como declarar efusivamente que se trata das holandesas, devido a baixa resolução da foto.
Jose Manuel Murgas seria o outro rapaz que aparece na foto juntamente com Osman e as duas garotas que alguns alegam ser Kris e Lisane. Jose foi morto em 2015 vítima de um atropelamento onde o condutor do veículo não parou para prestar socorro.
Outros casos análogos que ocorreram em Boquete.
Kris Kremers e Lisanne Froon não foram as primeiras nem as últimas pessoas a desaparecerem na região de Boquete. Em 2013 – um ano antes das holandesas desaparecerem – um casal de turistas alemães se perdeu em uma mata alí perto, mas foram resgatados pouco tempo depois. Em 2018 uma colombiana que havia se perdido de seus companheiros de caminhada exatamente na mesma trilha em que Kris e Lisanne desapareceram foi encontrada no dia seguinte em que foi notificado seu desaparecimento. Em 2019 o britânico Thomas Edward Dunne de 60 anos foi encontrado algumas horas depois de ser dado como desaparecido em Boquete, o que gerou várias críticas de moradores locais que questionaram as ações da SINAPROC (Sistema Nacional de Protección Civil) que, segundo eles, utilizam um critério diferente para panamenhos que tem que estar desaparecido por 72 horas antes de se iniciar as buscas. A crítica é válida, afinal não temos um número exato de panamenhos que desaparecem em suas florestas todo mês. Mas é fato que o desaparecimento de estrangeiros dentro de um país que tem o turismo como grande fonte de renda é muito degradante para a imagem do país. Temos aqui três casos de pessoas estrangeiras que se perderam e foram encontradas horas depois pela a equipe de resgate. Por que foi diferente com Kris Kremers e Lisanne Froon?
Outras tragédias em Boquete
No entanto, nem todos os casos terminaram bem. Em 2009 o britânico Alex Humphrey desapareceu em Boquete enquanto viajava sozinho. A equipe de buscas da SINAPROC fez buscas por todas os caminhos turísticos da região de Boquete e não encontrou nenhuma pista que levasse ao paradeiro do britânico de 29 anos. Em 25 de agosto de 2009, 11 dias após o desaparecimento, a SINAPROC encerra as buscas. Até o dia de hoje não se têm notícias sobre o paradeiro de Alex Humphrey. Os pais do britânico voltaram a se manifestar sobre o desaparecimento do filho em 2014 por conta da confirmação das mortes de Kris Kremers e Lisanne Froon. Gill, mãe de Alex disse ao The Guardian:
“Nós queremos que o “Foreign Office” (Análogo ao Ministério das Relações Exteriores) espere para confirmar se houve ação criminosa no caso das garotas holandesas, e então declarar o Panamá como um lugar perigoso... Estamos nos aproximando de uma época do ano quando as pessoas fazem viagens mochilão e eles estão indo ao Panamá porque não conhecem os riscos.” (tradução minha).
Com o caso das meninas holandesas os pais de Alex disseram que as esperanças de encontra-lo com vida se esvaem.
Outro caso chocante envolvendo estrangeiros viria a acontecer em 2017, quando a estadunidense Catherine Johannet de 23 foi reportada como desaparecida em 31 de janeiro. No dia 05 de fevereiro seu corpo foi encontrado nas margens de uma trilha em Isla Colon em Bocas del Toro - próximo a Boquete. A perícia constatou que a jovem havia sido estrangulada com sua própria canga (saída-de-praia). Logo vieram as comparações e as inevitáveis tentativas de ligar o caso de Catherine com o caso de Kris Kremers e Lisanne, sugerindo a possível ação de um assassino em série que atuava na região e teria sido responsável pelas mortes destas estrangeiras.
No entanto, a polícia do Panamá não relacionou os dois casos, pois segundo declarações das autoridades de segurança local, as mortes ocorreram em lugares distintos e longes um do outro e não havia como reconhecer nenhum possível modus operandi. Logo descobriu-se que o assassino de Catherine Johannet era um adolescente de 17 anos que foi preso e por ser menor de idade foi condenado a apenas 12 anos de prisão pelo estupro e assassinato de Johannet. A sentença dada, baseada nas leis panamenhas, chocou os pais da garota. Sua mãe chegou a declarar que essa sentença é
“uma mensagem de que mulheres podem ser estupradas e mortas sem que haja punição apropriada... é um insulto as mulheres, famílias e todas as pessoas de bem com a mensagem de que um crime horrendo tenha consequências tão mínimas para o criminoso.”(Tradução minha)
Conclusão:
Chegamos ao final do nosso relato que devido ao grande número de associações se tornou muito extenso. Notamos que há muitas evidências materiais, no entanto, nenhuma evidência parece gerar um resultado conclusivo. Eu não acredito que a versão da polícia esteja muito longe da realidade, por outro lado, creio que muitas das teorias posteriores são igualmente relevantes e deveriam ser mais bem avaliadas. Os familiares jamais terão a chance de presenciar o cotidiano de suas filhas novamente. Nunca tiveram como enterrar suas filhas e pagar tributos a elas, pois ninguém tem ideia de onde está a maior parte dos restos mortais das meninas e provavelmente nunca irão saber.
Obs. Enviem qualquer novidade que conseguirem sobre esse caso, pois pretendo fazer atualizações sempre que possível.
Fontes para pesquisa.
Caso queiram se embrenhar mais profundamente neste caso, vou listar aqui os sites mais completos e confiáveis que encontrei. Não são os únicos, mas são os que mais se empenharam para decifrar alguns mistérios.
Os 5 primeiros links é talvez o blog mais completo sobre o desaparecimento de Kris Kramers e Lisanne Froon. Há todas as fotos comentadas de forma cronológica e muito mais, sem contar que a autora sempre atualiza os artigos conforme novas descobertas são feitas.
Koude Kaas - Cold Case - The disappearance of Kris Kremers and Lisanne Froon in Panama, Boquete 2014 - an ongoing mystery – https://koudekaas.blogspot.com/2019/12/the-disappearance-of-kris-kremers-and.html - Arquivo: https://archive.is/wghYD
Koude Kaas - Cold Case – Part 2 of The disappearance of Kris Kremers and Lisanne Froon in Panama, Boquete 2014 - an ongoing mystery (Part 2: UPDATES) – https://koudekaas.blogspot.com/2019/12/the-disappearance-of-kris-kremers-and_3.html - Arquivo: https://archive.is/oVTqG
Koude Kaas - Cold Case – Part 3 with all the photos in The disappearance case of Kris Kremers and Lisanne Froon in Panama, Boquete 2014 - an ongoing mystery (Part 3; archive) – https://koudekaas.blogspot.com/2019/12/the-disappearance-of-kris-kremers-and_11.html - Arquivo: https://archive.is/i5mLp
Koude Kaas - Cold Case – Part 4 with updates on The disappearance of Kris Kremers and Lisanne Froon in Panama, Boquete 2014 - an ongoing mystery (Part 4; updates + archive) – https://koudekaas.blogspot.com/2020/01/the-disappearance-of-kris-kremers-and.html
Koude Kaas - Cold Case – WHAT DO OTHER PEOPLE THINK ABOUT THE KRIS AND LISANNE DISAPPEARANCE CASE? – https://koudekaas.blogspot.com/2020/02/what-do-other-people-think-about-this.html - Arquivos: https://archive.is/UJTuU
Os 2 sites abaixo trazem informações detalhadas como listas de envovidos e analise climáticas da região, muito bom para quem quer se aprofundar nos detalhes.
Imperfect plan – Kris Kremers Case: The People Involved (Reference Guide) – https://imperfectplan.com/2019/12/05/kris-kremers-lisanne-froon-people-involved-reference-guide/ - Arquivo: https://archive.is/9B7fS
Imperfect Plan – Kris Kremers Bleached Bones – Deeper Insights – https://imperfectplan.com/2020/07/02/kris-kremers-lisanne-froon-panama-bleached-bones/ - Arquivo: https://archive.is/aNf4c
Notícias sobre o caso nos sites de noticia.
Panamá América – Tras las huellas de Lisanne y Kris a su paso por Boquete – https://www.panamaamerica.com.pa/tema-del-dia/tras-las-huellas-de-lisanne-y-kris-su-paso-por-boquete - Arquivao: https://archive.is/iemWG
Panamá América – Encuentran sano y salvo al británico que estaba desaparecido en Boca Brava – https://www.panamaamerica.com.pa/provincias/encuentran-sano-y-salvo-al-britanico-que-estaba-desaparecido-en-boca-brava-1143740 - Arquivo: https://archive.is/8nrvm
La Estrella de Panamá – Ciudadano inglés sigue desaparecido – https://www.laestrella.com.pa/nacional/090827/sigue-ingles-ciudadano-desaparecido - Arquivo: https://archive.is/f7hsc
La Prensa – Suspenden la búsqueda de británico desaparecido – https://www.prensa.com/locales/Suspenden-busqueda-britanico-desaparecido_0_2642735920.html - Arquivo: https://archive.is/D6uH9
The Guardian – Alex Humphrey: British tourist missing in Panama – https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2009/oct/03/alex-humphrey-missing-panama - Arquivo: https://archive.is/15HX6
Manchester Evening News – MISSING ABROAD: Heartache of Stockport backpacker's family as two women found dead in same area – https://www.manchestereveningnews.co.uk/news/greater-manchester-news/alex-humphrey-stockport-missing-panama-7342930 - Arquiveo: https://archive.is/85BYB
New York Post – Columbia grad was strangled with her own bathing suit coverup – https://nypost.com/2017/02/08/columbia-grad-was-strangled-with-her-own-bathing-suit/ - Arquivo: https://archive.is/AcOgD
Daily Voice – 18-Year-Old Sentenced For Killing Westchester Woman, 23, In Panama – https://dailyvoice.com/new-york/whiteplains/news/18-year-old-sentenced-for-killing-westchester-woman-23-in-panama/739612/ - Arquivo: https://archive.is/z2yZU
André Stanley é escritor e professor de História, inglês e espanhol. Também atua como designer gráfico e fotografo. É autor do livro "O Cadáver" e editor dos blogs: Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher. Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys.
Commentaires